"O meu caminho eu escolho
Tirando o cisco do olho
Enxergo longe, me arrisco
Sou como o Rio São Francisco
Faço no tempo viagens
No espaço da noite e do dia,
Indo, fluindo às margens
De Pernambuco e Bahia
Andando por todos os lados
Sincretizando os Estados
Arrematando as costuras
Na integração das culturas
Assim como o rio promovo
O abraço que a gente precisa
Em busca do que é mais novo
Sim ultrapasso a divisa
Fazendo a ponte, sem medo
...
Por essas águas tão boas
Sou navegante feliz"

Sobras do dia de ontem

Hoje não foi apenas mais um dia, muito menos O dia...
Na verdade houveram as sobras do dia de ontem, dia que a mágoa preencheu esse coração forte que quase me deixou na mão...
Foi difícil dormir, foi difícil levantar...
Eu tenho uma técnica de desligar e ligar no meu cérebro que funciona tão perfeitamente no trabalho.
Até quando eu trabalhava no hospital, durante meu plantão eu achava que eu podia salvar o mundo. E mesmo quando eu deixava algo pendente, eu saía do plantão deixando a pendência lá. Nunca levei trabalho pra casa.
Hoje eu cheguei no meu trabalho ainda muito frágil, abatida, com olheiras e a vontade de chorar foi mais forte. Me peguei chorando durante a minha imensa jornada de duas horas de trabalho.
E não me senti culpada por não ter desligado o botão.
Ontem ao deitar, pedi a Deus pra quebrantar meu coração, retirar todo sentimento ruim de mim e acordei acreditando na fidelidade de Deus naquele que crê na sua misericórdia, naquele que vê em Deus o verdadeiro Pai, que permite sim que você enfrente seus leões, mas que não se afasta de ti em nenhum momento.
E acordei confiante, ainda que magoada...
Todos os dias nós encaramos um leão e eu não sou o tipo de pessoa que gosta de pensar no leão de amanhã. Nem sei se eu vou estar viva amanhã pra pensar nele.
Mas hoje eu não senti culpa por ter acordado me sentindo triste, como da mesma maneira não me senti culpada em te olhar e pensar que quem não merece me ter ao seu lado é você.
Me senti aliviada de aprender com você como nunca se deve tratar um filho.
Sabe qual é a diferença entre nós com relação a filhos? É que eu escolhi ter minhas filhas e amá-las incondicionalmente. Eu entendo que não sou uma super mãe, mas eu quero minhas filhas por perto até o dia da minha morte não porque eu sou a mãe delas, mas porque eu as amo e as aceito.
Só me senti mal de ter dito que se um dia você morrer, não precisa nem me convidar pro enterro que eu não vou. E só me senti mal por ter dito, porque é muito provável que eu realmente não esteja lá - nunca gostei de hipocrisia muito menos tenho a filosofia de que quem morre vira santo.
Acho que nossa barreira começou quando me rejeitou na maternidade e eu passei 29 anos insistindo que me aceitasse.
Cansei... e cansei sem a menor culpa.
Você esperava que na despedida hoje eu te desse um beijo?
Você queria esse beijo antes ou durante você por em prova meu caráter??
Você achou que ao perguntar se eu precisava de trocadinhos pra dar pro vigia do carro era o jeito de demonstrar algum tipo de preocupação comigo?
Jeito estranho de amar hein?
Eu sinto muito, dessa vez eu preciso muito mais do que palavras pra tapar o rombo que fez dilacerar meu peito e todo o resto de sentimento que eu ainda tinha por você.
É engraçado você ter raiva de quem me apoia porque você nunca me apoiou.
O favor que você fez na minha vida foi ter decidido verbalmente me excluir da sua vida, porque fazer parte mesmo, só na certidão de nascimento.
Era melhor pai ausente declarado na minha certidão do que um pai ausente durante uma vida inteira.
E por falar em Cazuza, essa aí é pra você:

"Mas no fundo eu nem ligo
 Você sempre volta com as mesmas notícias
 Eu queria ter uma bomba
 Um flit paralisante qualquer
 Pra poder te negar
 Bem no último instante
 Meu mundo que você não vê
 Meu sonho que você não crê, não crê..."